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Matrix do Brasil

R.Colini

Matrix do Brasil

Mas... e se fosse no Brasil?

Pesquisadores da Universidade de Bonn, na Alemanha, divulgaram que existe uma chance real de que nosso mundo seja uma ilusão criada por computadores. Pelo menos teoricamente, tendo como ponto de partida os avanços obtidos na construção de ambientes de realidade virtual, eles acham que existe uma possibilidade de que o mundo descrito no filme MATRIX venha a acontecer. Ou que já tenha acontecido e que vivemos nele...  

Mas... e se fosse no Brasil?

Imagine como seria um recrutador do mundo real chegando por aqui para despertar alguém do mundo de fantasias.

Marcos, que trabalhava em uma empresa de tecnologia, um dia recebe uma estranha visita, que atiça sua curiosidade. O sujeito aparentemente louco que o aborda possui a habilidade de realizar algumas façanhas impossíveis, como quando invade a tela do seu computador na empresa.

Ele não pode acreditar na conversa maluca do visitante que julga louco varrido, mas esse louco acaba por enredar Marcos em uma trama da qual não pode escapar.

Brasilianamente pouco ortodoxa é a ambição que move o visitante do mundo real e a relação que ele possui com os programadores, onde as máquinas dominaram o homem.

 

“Nas duas semanas anteriores, um homem que se apresentava como Mateus assediou Marcos de forma insistente e estranha, com alguns requintes de mistério que atiçaram a curiosidade de Marcos a ponto de fazê-lo concordar com o encontro às cegas.”
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“Marcos já nem se importava mais com aquelas bizarrices: eu, dois eus, dois mundos, o cacete, pois estava com a ideia fixa de descobrir o mistério que envolvia aquela identificação impossível no visor do celular, ainda que tivesse que fazer o jogo daquele doido e dar corda àquela loucura como se fosse coisa normal.”
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“A perplexidade era total. Marcos sentia-se em um sonho, ou drogado, vivendo em terceira pessoa em um filme. Enfim, por mais que racionalizasse sobre as possibilidades de uso de um computador hackeado, isso era muito improvável naquele ambiente de alta segurança de dados da companhia. Será que estava alucinando? Botaram alguma coisa no café? Sofria o stress acumulado do estrago provocado pelo divórcio, do qual nunca se recuperou de verdade?”
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“O apartamento era menor do que o dele. Assim que entraram, Mateus acomodou-se em uma poltrona vermelha alta, de couro artificial e rebites na lateral. Igual à do filme. Aquela poltrona fora uma aquisição inacreditável do dono do apartamento, que a comprou em um brechó, para homenagear o louco do outro mundo.
O grupo era medonho: catorze pessoas que se amontoavam na sala e isso fez Marcos lembrar de um filme em preto e branco que mostrava um circo de variedades com aberrações humanas.”
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“Marcos se sentiu o mais completo idiota em ter chegado até ali. Aqueles seres exóticos, tudo bem, poderiam viver na Matrix, em Avatar, em Xangri-Lá, era coerente com o grupo. Mas como ele fora parar no meio daquele bando? Executivo em início de carreira, refinado, culto, amante das artes, bom papo. Não conseguia entender como havia entrado nessa.”
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“A auditoria era a parte mais temida da empresa. Uma espécie de FBI interno com poder de vida e morte nas carreiras das pessoas. As cagadas por incompetência eram punidas com demissão por justa causa, mas qualquer desvio de conduta ou corrupção eram punidos com denúncia policial. Aliás, quando a auditoria chamava alguém, este infeliz via de regra já estava com a demissão assinada ou denúncia na delegacia. Só podia ser notícia ruim ou mais ruim.”
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“Marcos se dirigiu para o terrível quarto andar, o da controladoria e auditoria. O andar dos perdigueiros e dos tubarões que farejavam sangue e viviam para esviscerar suas vítimas.”